Deocleciano Martins de Oliveira e o Ciclo de Bronze

Deocleciano Martins de Oliveira Filho nasceu na cidade da Barra, na Bahia, em 9 de março de 1906. Ainda adolescente, com 17 anos arriscou-se na área jornalística, colaborando no jornalismo mato-grossense, quando mudou-se para Cuiabá.

Mais tarde mudou-se para o Rio de Janeiro, concluiu seus estudos e entrou para o mundo jurídico, onde trilhou uma grande e brilhante carreira.

Deocleciano Martins de Oliveira como Magistrado
Desembargador Deocleciano Martins de Oliveira em seu gabinete de trabalho como magistrado. Foto: Acervo CCMJ-Rio.

Foi comissário de polícia e auditor de guerra em sua cidade, Barra. Depois, no início dos anos 50, tornou-se juiz no Rio de Janeiro, vindo, mais tarde, a assumir o cargo de desembargador. Mas foi em outra área que o Dr. Deocleciano, como era chamado, destacou-se ainda mais: nas artes.

Teve vários livros publicados e foi várias vezes premiado pela Academia Brasileira de Letras. Também fazia desenhos e pinturas e tornou-se escultor, como entalhador de madeira, e começou a dedicar-se a criar esculturas em bronze.

É exatamente aqui que começa a nossa história.

Dr. Deocleciano Martins de Oliveira e o Ciclo de Bronze

Na década de 50, Deocleciano Martins de Oliveira deu início a uma bela trajetória, criando obras em cidades ribeirinhas do Rio São Francisco, sendo essas elementos culturais nativos, ligados à cultura da região e estátuas de santos, que influenciaram em sua formação espiritual, e ainda de animais que fazem parte das lendas dos povos ribeirinhos.

À trajetória desse movimento artístico-cultural, o próprio escultor deu o nome de Ciclo de Bronze.

O Ciclo de Bronze, espalhou-se por 3 estados: Alagoas, Bahia e Pernambuco.

Na Bahia, ele deixou seus trabalhos nas cidades de Bom Jesus da Lapa, Barra (sua cidade natal), Juazeiro e Paulo Afonso; em Pernambuco, quem recebeu as obras do escultor foi a cidade de Petrolina e em Alagoas a cidade de Penedo.

O que mais encanta nesse projeto de Deocleciano Martins de Oliveira é que ele não cobrou nada por esses trabalhos, os fez por dedicação e amor à arte e à região, de forma idealista.

Dr. Deocleciano Martins de Oliveira e o Ciclo de Bronze
Deocleciano Martins de Oliveira em Bom Jesus da Lapa. Foto: Acervo CCMJ-Rio.

Obras de Deocleciano Deocleciano Martins de Oliveira, do Ciclo de Bronze

Em Bom Jesus da Lapa, o escultor deixou 9 estátuas na entrada do Santuário de Bom Jesus da Lapa, sendo uma delas a do Monge da Soledade, simbolizando a chegada de Francisco de Mendonça Mar ao local.

As outras, são de 8 apóstolos, todas com seus respectivos simbolismos, como a de Pedro com uma rede de pescador – que simboliza o pedido feito por Jesus Cristo a ele, que fosse o “pescador de homens” para o reino de Deus; a de João, como uma águia, simbolizando a profundidade de seus escritos e assim, todos os apóstolos são associados à suas características ou missões.

Em Barra, o escultor espalhou várias estátuas pela cidade, uma delas, nomeada “São Francisco falando às Aves”, que foi inaugurada quando a cidade comemorou o 1º centenário da Catedral de São Francisco das Chagas.

Em Petrolina, há uma estátua de São João, réplica da estátua do Santuário do Bom Jesus da Lapa e também a estátua do aguadeiro.

Juazeiro, ganhou apenas a estátua de São Tiago Maior, também réplica da que pode ser vista em Bom Jesus da Lapa, e localiza-se na orla da cidade.

Em Paulo Afonso há uma imagem linda, inspirada em um poema de Castro Alves, “O Touro e a Sucuri”, onde a sucuri simboliza a força da natureza e o touro a tentativa do homem em domar o Rio São Francisco.

Em Penedo há também uma que tem sua réplica em Bom Jesus da Lapa: a de São Judas Tadeu.

Em Penedo há a Estátua de São Judas Tadeu.

Tudo o que for dito a respeito da obra do Dr. Deocleciano é pouco para que se consiga expressar tanto simbolismo e beleza, ainda mais quando se sabe que tudo foi feito por amor à sua terra natal, que foi o centro irradiador do projeto Ciclo de Bronze.

Promovido a desembargador do Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara em 1965, Deocleciano Martins de Oliveira aposentou-se no cargo em 31 de maio de 1972 e em 1974 veio a falecer, tendo ficado, assim, a obra dos 12 apóstolos em Bom Jesus da Lapa, incompleta.

Deocleciano trabalhando em suas obras
Registro do Desembargador Deocleciano Martins de Oliveira trabalhando em uma de suas obras em seu ateliê. Foto: acervo CCMJ-RIO

Para conhecer o trabalho de Deocleciano Martins de Oliveira Filho em Bom Jesus da Lapa, visite o Santuário e verá que as suas obras estão no perímetro da Esplanada, sendo impossível passar despercebido pelas estátuas de Bronze. Verá também que existem lacunas a serem preenchidas por seu trabalho inacabado, tendo em vista que faleceu antes de concluí-lo.

Será um nome a ser lembrado por muitas gerações, afinal Deocleciano fez sua história em Bom Jesus da Lapa e por muitos outros lugares, para além do Ciclo de Bronze, como o projeto de execução das esculturas em 1966 que ornamentam as fachadas e entorno do atual Palácio da Justiça do Estado do Rio de Janeiro: Lei, Justiça, Equidade, O Testemunho e de Rui Barbosa.

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