Projeto Cultura, Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé” faz documentário sobre Bom Jesus da Lapa

Em dia 13 de agosto, ocorreu o lançamento do “Projeto Cultura, Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé”. O evento foi feito em formato de live, ou seja, remotamente, e teve uma grande participação online.

O objetivo do Projeto é a salvaguarda do patrimônio imaterial do Estado da Bahia, a partir da Romaria do Bom Jesus da Lapa, realizada pela Capital Baiana da Fé.

Além do documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé, a iniciativa conta com um livro e um site. Todo o trabalho foi contemplado em chamada pública pelo Programa Aldir Blanc, oriundo da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA).

A atividade foi selecionada através de um edital lançado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

Rico em fotografias históricas e belos cenários, o documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé é cheio de apresentações artístico-culturais, como encenações e exibições musicais, de teatro e dança, trazendo informações detalhadas sobre Bom Jesus da Lapa, suas romarias e vocação para receber visitantes de todo o mundo.

O material mescla entrevistas, memórias, lendas, causos e os contos, trafegando com excelência pelos mais diferentes temas: o Velho Chico e sua energia primitiva, a gente alegre e receptiva de Bom Jesus da Lapa, a fauna e a flora da região incrustada no oeste baiano.

Aborda ainda a mistura de raças e credos presente no município, o crescimento e adequação da cidade para receber o grande volume de turistas, o entrelaçamento de ruas e becos na formação das festividades do lugar, e, finalmente, o santuário de Pedra e Luz  – o chão santo por onde passam as romarias e seus milhões de fiéis. 

O início do documentário Cultura, Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé

O documentário inicia destacando o descobrimento do Santuário, pelo Monge Francisco de Mendonça Mar. A história conta como ele foi tocado pela divina Graça e ouviu o chamado para buscar o calvário na Gruta, dividindo seu patrimônio com os escravos e fazendo uma caminhada de mais de 200 léguas até chegar ao local e entronizar o Cristo, em 1961.

Relata, ainda, como, através do recolhimento e da oração, a Gruta do Monge viria a se transformar em um núcleo religioso, configurando-se como o embrião da cidade.

Diz o documentário que em 1702 o arcebispo da Bahia, Dom Sebastião Monteiro, surpreendido pela notícia que um eremita lá vivia, em função apostólica, missionária e evangelizadora, resolveu enviar um visitador-geral para se certificar da veracidade dos fatos. Após a confirmação deles, Francisco foi preparado e ordenado capelão do Santuário, em 1706.

Os dois Franciscos de Bom Jesus da Lapa

Um dos pontos altos do documentário trata do Rio São Francisco. Conforme o trabalho audiovisual, o tom de suas águas muda:  ele tem águas barrentas e escuras na época de enchente, e águas cristalinas em período de seca.

O documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé aborda o tema do Rio como uma fonte de vida efervescente em Bom Jesus da Lapa, generoso como o santo que lhe confere o nome, trazendo à tona a Festa dos Navegantes, que acontece há mais de 40 anos no município.

Durante a Festa, que é organizada por pescadores, além das esposas e filhos deles, ocorre uma grande procissão fluvial e terrestre. Nela, como de costume, os fiéis rezam e cantam benditos, pedindo bênçãos e o alcance de suas graças.

De fato, milhões de vidas necessitam das águas do Velho Chico, que tem aproximadamente 2.200 quilômetros de extensão e uma bacia de 630 mil quilômetros quadrados.

Descoberto pelos colonizadores Américo Vespúcio e André Gonçalves, em 4 de outubro de 1501, ele foi batizado com o nome do santo do dia: São Francisco de Assis.

Assim, em Bom Jesus da Lapa, a história de dois grandes Franciscos se encontra: o monge da gruta e o Rio. O primeiro, movido pela fé, o segundo, pela Graça, como ressalta o documentário.

Manifestações populares em Bom Jesus da Lapa

Os caminhos da fé em Bom Jesus da Lapa passam diretamente pelas manifestações populares. E elas têm um capítulo realçado no documentário.

Ele traz, por exemplo, importantes efemérides históricas, como quando Dona Candinha da Casa Paroquial introduziu os reisados e pastorinhos na cidade, em 1911, e o coronel Osório da Rocha Porto, em 1912, os ternos.

Os festejos têm mesa farta, licores, cantos, danças e dão um colorido todo especial à cidade. O documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé enfoca principalmente a Festa do Divino Espírito Santo e alguns de seus personagens principais:  o imperador, que é escolhido por sorteio, o capitão do mastro, o alferes da bandeira e o juiz.

Os acontecimentos mais relevantes são destacados, como a fincada do Mastro, a visita da Bandeira do Divino às casas, a caretagem, a marujada, a cavalhada e a luta de mouros e cristãos.

Nesse sentido, são entrevistados a coordenadora da Festa do Divino Espírito Santo, da Fazenda Campos, Fabíola Pereira Barbosa, e Romualdo Firmino, há 23 anos Capitão da Marujada da Chegança e sucessor de Mestre Dedé.

O documentário traz muitos depoimentos

Como não podia deixar de ser, o “Projeto Cultura, Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé” traz muitos depoimentos dos peregrinos.

São relatos emocionantes de fé, percorrendo os maiores eventos religiosos do município e salientando especialmente a grandiosidade da Romaria do Bom Jesus da Lapa, que, sozinha, arrebanha até dois milhões de peregrinos.  

“O povo de Deus era rico de nada, só tinha a esperança e o pó da estrada”

Depoimento extraído do documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé

No trabalho audiovisual, a Igreja de Pedra e Luz, que tem três séculos de história, é vista como uma grande mãe que desde seu nascimento acolheu peregrinos de todo tipo, desde desbravadores, até bandeirantes, mineradores, negros e índios. 

A respeito desse tema são entrevistados o padre João Batista, reitor do santuário do Bom Jesus; o padre Carlos Kaminski; Pérola Luize, representando os romeiros de Bom Jesus; Vitória Amorim, romeira de Juazeiro (BA); Sebastião Martins, romeiro de Cuiabá (MT); e Maria Helena Veran, romeira de Avignon, na França, entre outros.

Cada um fala de sua reverência à cidade e ao Santuário do Bom Jesus da Lapa e todos assinalam que a experiência religiosa transcende a materialidade e os obstáculos.

Patrimônio de belezas naturais

O documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé também chama a atenção para a beleza dos detalhes da Gruta do Bom Jesus, apresentando referências históricas. A cobertura do altar do Bom Jesus é uma delas.

Em fórmica de madeira colonial, sustentada por duas grossas colunas, a armação côncava trazia a pintura de Godofredo Guedes, onde se inscrevia: “Eis aqui meu filho amado no qual pus toda minha complacência: ouvi-o” – um relato da Transfiguração no evangelho de Mateus.

Além disso, o trabalho destaca a Romaria Negra, quando, em 1888, uma multidão de negros ficou por oito dias em Bom Jesus da Lapa, entoando louvores ao som de tambores, pandeiros e chocalhos de cabaças. Eles vinham mostrar sua alegria e reconhecimento pela abolição da escravatura.

Com as moedas doadas pelos negros, Monsenhor Turíbio decidiu fazer um grande sino, o maior de toda Bahia, pesando mais de uma tonelada em mais de 1,5 metro de altura.

Ciente de toda simbologia que aquele gesto mostrava, o Monsenhor encontrou uma maneira de perpetuar aquela oferta de gratidão. Assim, toda vez que o sino toca, ele ecoa um grito de liberdade.

Os envolvidos no Projeto Cultura, Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé

O “Projeto Cultura, Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé” tem como coordenadora Carla Cristina Nunes, áudio off de Hairton Gonçalves, filmagem e edição de Elton Paz, filmagem e fotografia da Idéia Áudio Visual, produção geral de Jorge Albuquerque de Oliveira, maquiagem de Marta Campos e Rafaela Gomez, direção, escrita e roteiro de Péricles Itamar Cardoso e produção colaborativa local de João Paulo Lélis Pereira. A apresentação e narração é de Black Jassy e Pisit Mota.

Participaram dele os grupos culturais: Grupo de Reisado – Terno das Borboletas; Caretas da Lapa; Baianas Ribeirinhas; Cia de Teatro D’Ivonildes; Grupo de Dança Africanizar; Filarmônica Euterpe Lapense; Grupo de Maculelê – Raquel Leite; Bandeireiras do Divino; Capoeira Ginga Bahia; Grupo Marujada da Chegança; e Lamentadoras das Almas.

Vídeo do Documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé

Fotos do documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé

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O documentário Tradições e Romarias nos Caminhos da Fé pode ser assistido no Youtube, no endereço https://www.youtube.com/watch?v=EykUKGFLqUQ&list=LL&index=1. Outras informações sobre o Projeto podem ser adquiridas no endereço https://romariadalapa.com.br/.